Posição do comitê da Sociedade Internacional de Estudos das Doenças da Vulva (ISSVD setembro 2017)
O número de cirurgias e procedimentos cosméticos vulvovaginais está aumentando em todo o mundo, apesar da falta de evidências científicas que apoiem a necessidade de muitos desses, ou sua eficácia. Estes são oferecidos e anunciados como procedimentos comuns, simples e sem complicações, capazes não só de melhorar a aparência estética, mas também aumentar a autoestima e aumentar o prazer sexual tanto para as mulheres quanto para os seus parceiros. Fatores sociais complexos estão criando ativamente um problema/doença percebida pelo qual a intervenção cirúrgica é oferecida como cura… um completo consentimento informado deve ser sempre obtido… Os cirurgiões que executam cirurgia cosmética devem abster-se de promover procedimentos sem base científica… O cirurgião deve ser treinado e experiente em realizar a cirurgia e ter conhecimento da anatomia, fisiologia e fisiopatologia da vulva, vagina e orgãos adjacentes…as diretrizes para médicos e informações claras e cientificamente corretas para os pacientes devem ser disponibilizadas, a fim de minimizar o número de intervenções ineficazes ou mesmo deletérias nesta área.
CIRURGIA COSMÉTICA DA VULVA
Considerações da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO)
- Cirurgia reconstrutiva não é cirurgia cosmética
- A vulva normal tem uma grande variação da anatomia
- Aspectos éticos em indicar cirurgias desnecessárias em mulheres sadias e cuja anatomia é falsamente anormal
- Aspectos éticos e conflito de interesses se o material promocional induz à crença de anormalidade da vulva
- Cirurgia cosmética pode atrair mulheres com distúrbios psicológicos e que percebem sua vulva como anormal mesmo sendo normal
- Risco de infecção, sangramento e cicatrizes e lacuna nas complicações a longo prazo
- A expectativa dos resultados cosméticos, sexuais ou sociais podem não ser alcançados
FIGO, 2015 Int J Gynecol Obstet 2015; 128:85-6.
Atitudes médicas diante a demanda
- Discussão franca sobre a ampla variação da genitália normal
- Reassegurar a paciente de que a aparência da genitália externa varia significativamente de mulher para mulher
- Abordar cuidadosamente as preocupações sobre satisfação sexual
- Mostrar que é falso que estes procedimentos são aceitos como práticas cirúrgicas de rotina
- Mostrar que não há dados que assegurem a segurança e a eficácia destes procedimentos
- Informar sobre as potenciais complicações: infecção, alteração da sensibilidade, dispareunia, aderências e cicatrizes
Lloys J et al. Female genital appearance: “normality” unfolds. BJOG 2005; 112:643-6
Consenso em cirurgia cosmética ISSVD, 2017
- Estética, plástica ou cirurgia cosmética é diferente de cirurgia reconstrutiva
- Há uma grande variação em termos de normalidade dos genitais: médicos deveriam ser capazes de explicar isto às mulheres que demandam cirurgia cosmética vulvovaginal
- Todas as mulheres submetidas à cirurgia cosmética genital deveriam ser avaliadas previamente por ginecologista: atenção deveria ser dada ao contexto psicológico e deveria ser feita uma avaliação por um profissional de saúde mental
- Mulheres não deveriam ser submetidas à labioplastia antes da idade adulta
- Não há dados que sustentem a himenoplastia, o descolorimento/branqueamento vulvar, procedimentos de estreitamento vaginal, ampliação do ponto G e outros procedimentos visando incrementar a função sexual
- Cirurgia cosmética genital não é isenta de complicações
- Um minucioso consentimento informado sempre deve ser obtido
- Cirurgiões que realizam cirurgia cosmética deveriam se abster de anunciá-las e estimulá-las, incluindo em websites
- Cirurgiões devem resistir à pressão das pacientes para realizar cirurgia com as quais não concordam e explicar sua posição
- O cirurgião deve ser adequadamente treinado e experiente em realizar a cirurgia e ter conhecimento de anatomia, fisiologia e fisiopatologia da vulva, vagina e orgãos adjacentes